segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Genealogia por Lázaro Barreto

Texto enviado há três pelo amigo Tote.

A desventura da depressão é congênita?
Por mal dos pecados anteriores, até que pode ser.
Uma encrenca atrás da outra, indefinidamente?
Pode até acontecer.
Temos, porém, que levar em conta a vida errônea das pessoas
neste mundo de porteiras agressivas, responsável
pelo amargo assédio das lágrimas que destemperam
o pão nosso de cada dia.

A fina película de vida que cobre o planeta
está se afinando cada vez mais?
Os lugares da infância não cansam de chamar-nos:
frágeis e pusilânimes,
sentem saudades de nós, naquela quadra?
Apesar dos pesares, no entanto, sei muito bem
que se aprofundar-me no horror mais execrável,
posso encontrar o maravilhoso bem escondidinho lá!
Na tessitura dos senões e dos engodos,
uma simples palavra que se escreve ou que se lê,
pode ser cômica, dramática ou trágica
(a palavra que chora por dentro
no silêncio da dor reprimida).

Entrementes
recolhi e colecionei as muitas dores e os poucos prazeres
de meus antepassados,
a descer do trisavô em 1798
até chegar aos tataranetos dele na virada do segundo milênio.
Sim senhor!
Estive exaustivamente nas paróquias e nos cartórios
manuseei amarfanhei empilhei as fartas dores
e os escassos prazeres
ao longo dos anos e dos lugares,
através do sangue dos nomes prenomes sobrenomes,
até chegar às lágrimas que hoje inundam
meu quarto minha casa minha rua minha pessoa.
As lágrimas que amortalham e sepultam meus pedidos
e oferendas
aos que me precederam no banho de bênçãos e sorrisos
de uma família que é a miniatura da ampliada
FAMÍLIA HUMANA.