Para a grande maioria das pessoas
este tema trás lembranças de brasões, títulos nobiliárquicos ou até mesmo que
fulano é filho de beltrano para não enveredar em outras falsas deduções, mas se
partimos para um simples pensamento, buscando e baseado num raciocínio lógico,
de imediato notamos que o tema é muito mais abrangente e complexo do que pensa
a grande maioria.
Na verdade, hoje a genealogia é
vista como uma ciência auxiliar da História, onde se encontram os níveis de
parentescos entre pessoas e a correlação entre elas. Poderíamos até aceitar
este tipo de definição a duzentos anos, onde havia interesses em realizar
ligações de parentescos com possíveis nobres ou mesmo para fugir da Inquisição,
nos casos daqueles que não tinham “sangue limpo”, ou seja, eram descendentes de
judeus, mouros, escravos, ou mesmo tendo uma linhagem “limpa”, mas exerciam
trabalhos tidos como manuais, não eram “dignos” de ter o sangue limpo. Mas se
pararmos para pensar, veremos que já naquele tempo ela era de suma importância,
até para definir a sobrevivência de um ser ou mesmo de uma família.
Mas, por qual motivo ou quem
determinou que a mesma fosse uma ciência auxiliar? Se de tempos atrás ela já
tinha sua importância? E hoje também, pois com o advento e facilidades das
mídias, as comunicações ficaram mais fáceis e com isso novas informações que
levavam anos para serem descobertas hoje são em dias.
Pessoalmente não vejo desta
maneira, muito menos que uma completa a outra, acredito que as duas e outras
ciências andem em paralelo, pois vejamos: podemos muito bem vincular a
genealogia à geografia, ou não? Quantas famílias não teem suas alcunhas oriundas
de posições geográficas?
Acredito que a genealogia,
estudada de forma séria sem interferências, como víamos antigamente para que
reis ou nobres pudessem obter títulos, traria várias respostas e ajudaria
bastante a entender diversos acontecimentos históricos, geográficos,
sociológicos, entre outros. Um exemplo muito fácil de compreender é o caso dos
sefarditas, que para mim foi puramente político, ou não? Os mesmos, para os
critérios adotados pela Igreja na época não tinham sangue limpo, mas havia o
interesse ECONÔMICO, então eram
“aceitos”, pois possuíam recursos para patrocinar as empreitadas, tomamos como
exemplo os portugueses que fizeram isso de maneira ímpar, tendo grande importância na época dos descobrimentos. Os judeus foram assim “aceitos”, pois eram convenientes naquele momento, pois eles
detiam o capital. Depois que investiram e já não havia mais o interesse comercial,
começaram a ser caçados. Mas retornando ao assunto, qual a ligação da
genealogia neste ponto como ciência auxiliar da História? Ela também estava
ligada a política, economia e a sociologia.
A colonização portuguesa era
quase que na sua totalidade exploratória, com muito pouco interesse em
desenvolver as suas colônias, com isso os judeus foram expulsos, pois não
existia mas o interesse de sua permanência aqui, pois não eram “limpos”. Foram
para América do Norte e fundaram Nova Iorque!
Estudamos e temos como outro
exemplo, o Recife na época nassoviana, onde foi considerada a cidade mais
próspera e URBANIZADA da América. Urbanizada
está vinculada apenas a História?
Mas também temos que reconhecer
nossa culpa, pois quando vimos um livro de genealogia identificamos apenas o
que já foi relatado no início do texto, apontamentos informando apenas graus de
parentescos e as ligações entre famílias e até mesmo dentro da própria família,
para que com isso não perdessem a pureza do sangue. Isso gera um desânimo, pois
ainda não entendemos a verdadeira posição da genealogia, acreditamos que ela é
uma ciência auxiliar.
Temos que ter o discernimento
para vislumbrar o verdadeiro sentido dos estudos genealógicos e o que está por
trás deles, onde nos livros poderiam ser abordados diversos temas, tornando assim
o estudo muito mais completo e interessante de ler.
Como um indivíduo que viveu, por
exemplo, no século XVI, não participou de uma vida social? Ele não viveu
sozinho, viveu em sociedade, dentro de regras e com isso com um contexto
histórico, geográfico, urbanístico, social, entre outros, participando da vida
social e fazendo parte de toda conjuntura da época, sendo ele um nobre, um
escravo ou qualquer que seja a sua origem.
A genealogia não deve e não pode omitir ou
burlar as verdadeiras origens de um ser, coisa muito comum nos tempos passados,
como nos relatos de Evaldo Cabral de Mello, no seu livro “O Nome e o Sangue”, onde um senhor de engenho para esconder sua
origem sefardita escamoteou sua árvore genealógica para não perder os
prestígios que se valia na época. Esta genealogia é a errada, onde por interesses
ele alterou não apenas a sua árvore, mas também sua própria história e da sua
família. Pode ser que por estes motivos a definimos como auxiliar.
Dentro dos conteúdos dos livros
genealógicos poderia muito bem ser incluída a situação em que o indivíduo vivia
dentro da sociedade, os primórdios de uma colonização, de uma urbanização, onde
as cidades engatinhavam, as vilas, as províncias, surgiam e começava a formação
de um povo, de uma nação.
Qual o motivo dos portugueses
ficarem apenas no litoral? Como falava um autor que agora me foge o nome, que dizia
em um de seus livros “colonização de
caranguejo”, onde o português ficava apenas andando de lado, sem entrar no
chamado sertão.
A genealogia num simples ponto
pode explicar este fato: porque motivo à colonização não adentrava no sertão e
ficava exclusivamente na zona da mata? Pois o clima sertanejo não favorecia.
Então quando abordamos que o senhor de engenho possuía um engenho a beira de um
rio e situado na zona da mata era por que o clima favorável ajudava na produção
do açúcar, além do fato do mesmo pertencer a um conselho ou ter algum cargo
público por exemplo, onde as sedes eram situadas nos centros urbanos.
O senhor de engenho Fulano de
tal, casado com D. Sicrana possuindo deste enlace três filhos que segue:
1. Fulano
Filho (c.g);
2. Beltrano;
3. Sicrano
Ou um novo contexto meio que
romanceado:
O Sr. Fulano, proprietário do
engenho Puxi de Baixo, localizado em Cruz do Espírito Santo/PB, na várzea do
rio Paraíba, casado com D. Sicrana, tendo geração que segue:
1. Fulano
Filho (c.g);
2. Beltrano;
3. Sicrano
O Sr. Fulano exerceu diversos
cargos entre eles o de capitão-mor na província de Areia, tendo se estabelecido
ainda em outros engenhos da região. O mesmo participou da assembleia que jurou
lealdade ao rei e ser contra a república, como segue abaixo o fax-símile.
O Sr. Fulano, deixou um
testamento que hoje se encontra no Instituto Arqueológico da Paraíba.
Seus descendentes se ligaram a
famílias da região, onde aumentou substancialmente as posses da família. Um dos
filhos foi para o Recife, onde se tornou bacharel em Direito e seguiu a
carreira diplomática exercendo cargos em Londres, Paris e por fim na América do
Norte.
Não sou crítico literário, nem
tão pouco dono da razão, mas acredito que a genealogia seria muito mais
disseminada com textos que estivessem a alcance de todos, ou seja, não fossem
cansativos, pois hoje os livros publicados interessam quase que na sua
totalidade, aos admiradores ou pesquisadores.
Os livros poderiam ter mapas,
indicando a posição geográfica da origem da família, com isso já enveredava
para a origem do apelido, podendo também indicar o motivo da fixação da família
naquele local, como uma carta de doação, documentos históricos.
Assim não teríamos na Genealogia
uma fonte secundária ou auxiliar, mas uma fonte de pesquisa séria e acima de
tudo completa.
ACM